31.8.08

O fracasso nas batalhas-símbolo

Nos últimos anos, o exército da República do Botafogo padece de um mal: por muitas vezes cumpre missões dificílimas, derrota exércitos mais bem armados e depois fracassa quando ninguém espera – sempre quando a batalha é carregada em algum simbolismo, sempre quando é a batalha-símbolo, o marco zero para a arrancada definitiva à glória.

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O olhar perdido, a expressão de desânimo, está muito claro: um fracasso para a República

Há pouquíssimos meses, em seu território, os capibas violaram absolutamente todas as leis internacionais da guerra. A forma como se comportaram diante do exército glorioso foi deplorável, coisa de bandidos da pior espécie. A comunidade internacional se manifestou e os capibas foram relegados a párias, com o chefe do bando, Ruy, um bandidinho que fora expulso do exército glorioso anos antes, tendo expedido contra ele um mandado de prisão internacional.

O tempo passou desde aquela batalha, o exército glorioso se recuperou, avançou muito na economia, cresceu seu exército e se tornou um dos países líderes. Pressionados por um forte bloqueio econômico, os capibas definharam, se tornando um dos quatro países abaixo da linha da pobreza. Pois foi uma surpresa para todos quando uma delegação capiba, acompanhada de uma ridícula escolta militar apareceu em Engenhão, para implorar por alguma ajuda que desse algum alento à sua situação famélica.

Ajudar um país pária? Que violou as leis internacionais justamente contra nós? Cujo chefe do bando é um bandido foragido que foi expulso da República? Não! Nunca! Com esse pensamento e espírito, o povo glorioso marchou para Engenhão, para pressionar seu exército a expulsar de maneira definitiva os pedintes criminosos. A comunidade internacional também acompanhava atentamente o desenrolar dos fatos, observando com muita atenção qual seria a reação dos republicanos diante de criminosos condenados.

Mas para a surpresa de todos, o exército glorioso não massacrou, nem esmigalhou, nem aniquilou o bando capiba. Ao contrário, foi condescendente. A movimentação das tropas era demasiado lenta e pouco agressiva. O exército buscava apenas cercar os criminosos, mas praticamente não investia contra eles. Nas poucas vezes que isso ocorreu, o Cabo Thiaguinho por duas vezes, errou tiros à queima roupa.

Como os capibas não faziam muita coisa, os gloriosos continuavam movimentando-se tentando cercar o inimigo. Até que, numa eficiente investida organizada pelo Capitão Túlio com o Coronel Lúcio Flávio, o 19º Corpo de Infantaria do Tenente Carlos Alberto casou estragos ao bando capiba. Não muito depois, o Coronel Lúcio Flávio avançou sozinho, num evento de extrema coragem e eficiência que por muito pouco não vira um capítulo à parte da história militar da República.

A batalha seguiu, com os bombardeiros de mergulho Gil lançando bombas perigosas que aterrorizavam os capibas. Mas ao mesmo tempo, o 19º Corpo de Infantaria insistia em não coordenar suas ações com as outras tropas, parecendo que queriam ser os heróis isolados da vitória. Não sabe o tenente Carlos Alberto que, apesar de o 19º C.I. ser de fato a tropa de elite gloriosa, não se ganha uma batalha sozinho? E o exército glorioso parecia adotar a mesma estratégia que vem sendo a regra sob o comando do Marechal Nei Franco: causa danos ao inimigo e, ao invés de aproveitar seu enfraquecimento, simplesmente tenta administrar a batalha, fazendo o tempo passar sem sofrer baixas e forçando a rendição.

Quando um dos escoltas capibas cometeu uma ação bárbara e foi expulso pelo observador internacional do campo de batalha, parecia que tudo ia ficar mais fácil. Mas foi aí que o Marechal enfiou os pés pelas mãos. Para testar a eficiência dos tanques Zárate, nova aquisição do exército glorioso, ele tirou da batalha as tropas do flanco direito, do Cabo Thiaguinho. Fez errado. Deveria ter deslocado para a reserva o 19º Corpo de Infantaria, pois assim não perderia o flanco direito. E como no flanco esquerdo a Companhia Trigo não consegue acertar sequer uma vez as coordenadas para o ataque aéreo, os tanques Zárate ficaram subutilizados. O erro foi percebido pelo Marechal, que tentou corrigi-lo errando mais feio ainda: para recuperar o flanco direito, chamou à batalha a Companhia Alessandro, deslocando para a reserva o Capitão Túlio. O exército glorioso continuou sem força nos flancos e perdeu espaço no setor central. E para piorar, visando administrar de vez a batalha, mandou de volta ao hangar os bombardeiros de mergulho Gil e lançou a Companhia ZC.

Essa é a força aéra capiba. Na única vez que foi acionada, fez estragos nas tropas gloriosas. Simplesmente ridículo.

Foi a segunda batalha seguida que a companhia ZC é acionada para proteger avanços inimigos no flanco esquerdo. Foi a segunda batalha seguida que a vitória escapou no fim e pelo flanco esquerdo. Quando tudo parecia encaminhado, os capibas lançaram mão de sua ridícula força aérea: um homem amarrado em balões lançando pedras de um estilingue. E foi esse ataque aéreo, após falhas da retaguarda gloriosa, que causou estragos no lado republicano.

Os pedintes capibas conseguiram o que queriam, uma ajuda dos gloriosos para se livrar da fome. O povo da república reagiu com insatisfação e até um princípio de revolta ao comportamento burocrático e pouco agressivo de seu exército, que ajudou criminosos que nos fizeram mal há poucos meses.

A comunidade internacional também reagiu prontamente. Por ter ajudado um exército pária, por ter falhado em prender um bandido condenado e deixá-lo sair livre de seus domínios, o grupo dos países líderes se reúne para discutir sanções contra a República, que provavelmente será excluída de tal grupo.

A diminuição da confiança dos cidadãos em seu exército. A provável exclusão do grupo dos países líderes. As piadas de nossos inimigos, pois ajudamos criminosos condenados que nos prejudicaram anteriormente. A diminuição do respeito a Engenhão e sua linha de ferro pelos inimigos, afinal se os famélicos capibas não sucumbiram à cidade...Essas são as conseqüências do burocratismo, falta de vontade de vencer, modificações erradas e retaguarda aberta da batalha contra os capibas.

Depois de um avanço extraordinário na economia e na guerra, a República do Botafogo sofre um declínio. Um breve e passageiro declínio ou algo mais consistente e preocupante? Impossível dizer agora. Mas o fato é que a batalha contra os capibas era uma batalha simbólica. Era a batalha que mostraria ao mundo que o exército glorioso não deixaria passar impunemente agressões e crimes cometidos contra ele. Era a batalha que o exército glorioso deveria mostrar categoricamente que com Engenhão não se brinca. Era a batalha que deveríamos mostrar à comunidade internacional que não estávamos por acaso, de brincadeira ou de passagem no grupo dos países líderes. Era uma batalha simbólica por vários motivos e deveria ser vencida impiedosamente e inquestionavelmente. Falhamos miseravelmente, como temos falhado em todas as batalhas-símbolo dos últimos anos.

O exército glorioso tem que repensar algumas coisas. Ao tentar administrar as batalhas, ao invés de liquidá-las, estamos sempre sujeitos a surpresas desagradáveis no final. E é muito bom que esses soldados passem a vencer as batalhas-símbolo. Porque elas que marcam o exército e ficam para a posterioridade.

Porque do contrário, por mais triste que seja dizer isso, corre-se o risco de o único símbolo que esses soldados deixem para a história republicana é o símbolo de soldados fracos de espírito que, talvez por medo da vitória, botam tudo a perder quando estão de frente para a glória.

Que eu esteja errado.

A marcha agora é mais longa e mais difícil. Terão nossos soldados forças para realizá-la?

6 comentários:

Rodrigo Federman disse...

Danilo, comentário perfeito!
Penso na mesma linha! E o NF jogou com o inimigo ontem!
Abs e SA!!!

Unknown disse...

a gente perdeu por não ter feito o segundo gol, culpa de Thiaguinho e Gil que nao sabem chutar. Malditos.

Guilherme Basto Lima disse...

Thiaguinho e Gil não sabem chutar; Triguinhao não sabe cruzar e Castillo não sabe agarrar.

Mas o Thiaguinho e o Triguinho compensam na parte defensiva, têm disposição de sobra. Já o Gil é um ex-jogador em atividade e o Castillo não para de falar, só quando é pra engolir frangos.

Defendo a expulsão de Gil e Ze Carlos. Aproveita e põe o Fábio na barca também.

E outra: o Marcelinho ainda não foi afastado do elenco? O que ele fazia no banco ontem. Que vergonha!

Anônimo disse...

Bravos companheiros de luta.
Estive afastado em missão diplomática e não pude acompanhar a batalha contra os traiçoeiros ratos capibas. Recebia apenas alguns informes via telegráfo que só aumentavam minha angústia. Oh dor! Nada a acrescentar à perfeita observação sobre o nosso histórico de fracassos nas batalhas símbolos. Alguma soberba teria afetado nossos homens após a fácil conquista de Pintinhópolis?
É hora de reagir na casa do inimigo. À vitória contra os "coxabambas"!

Gil disse...

Danilo, onde assino.
A frustração é imensa. Perdemos uma grande oportunidade de, na bola, humilhar a quem não foi respeitável conosco e com as tradições do nosso GLORIOSO.
Essa batalha era única e os nossos soldados deixaram passar a oportunidade de impor-se ao respeito. De mostrar aos adversários que nos ofende e prejudica que o BOTAFOGO tem que ser tratado com reverência e honra.
Abs e Sds,BOTAFOGUENSES!!!!

snoopy em p/b disse...

cara,
é prazeroso ler um texto com tanta riqueza de detalhes.
nunca gostei de guerra, apesar de muito ter lido já sobre isso, por ser formado em relações internacionais.
mas é impressionante que um leigo por completo no assunto consegue correlacionar todo o sentido do seu texto.
chega a ser chato ficar elogiando tanto, não por mim, pois posso fazer isso sempre.

enfim, não tenho o que comentar sobre o texto pois você relatou todo o sentimento de frustração dos gloriosos com perfeição.

abraço!