Em 21 de Junho a República do Botafogo comemora uma das mais importantes datas de sua História: a Revolução de 89, que pôs fim a 21 anos de amarga ditadura. Aos 8 anos de idade na época, saindo pelas ruas, orgulhoso, com as cores e bandeira do país eu estava feliz, mas certamente não compreendia exatamente o que significava a revolução para milhões e milhões de gloriosos. Na véspera do 19º aniversário dessa grande data, faço aqui minha homenagem aos heróis anônimos que resistiram à ditadura e aos valentes soldados que deram cabo dela.
Liberdade! O povo glorioso nunca se cansou de lutar por ela.
Das muitas formas nefastas de se fazer política, o entrismo é sem dúvida uma das piores. Ele consiste num projeto deliberado de infiltração, visando cargos importantes, promoções e benefícios (de qualquer ordem: políticos, financeiros...) que a máquina estatal fornece. Assim, o grupo infiltrado não luta contra a máquina, mas passa a fazer parte dela, a controlá-la, e a utiliza para seus interesses. No período mais tenebroso de sua história, a República do Botafogo foi vítima dessa política.
Em finais dos 60, a República do Botafogo era a mais avançada e desenvolvida nação do planeta. Seu poderio militar era incomparável. O povo glorioso vivia em paz, feliz. Eram grandes tempos para a República e para o botafoguismo. Mas a situação do país atraía ainda mais o ódio de seus inimigos. Buscando maneiras de acabar com a Republica e seu povo, o Eixo, aliança formada pelos Reino da Gávea, Reino de Laranjal e Império de Sãojanu, decidiu pela adoção do entrismo, infiltrando seus agentes na política republicana, visando minar por dentro o eficiente sistema glorioso. O massacre dos bacalhaus, de 68, comandado pelo Coronel Gerson, foi a gota d’água para o Eixo e marcou o início das operações.
Começou aí uma campanha nunca vista antes para acabar com o botafoguismo. Propaganda, guerra velada e infiltrações. A República estava sob ataque. Mas, em muito graças à força do seu exército, não dava sinais que seria vencida. As coisas começaram a mudar mesmo durante as batalhas de 71. Nelas, os coloridos se valeram do pior artifício existente para derrotar os gloriosos: árbitros de destruição em massa. A covarde bomba Marçal, atirada pelo avião colorido “Tricola Gay” até hoje dói na alma gloriosa.
Isso enfraqueceu a República. A política contra o botafoguismo obteve sucesso. Começava de fato o pior período da nossa história: a terrível ditadura. Aos gloriosos, a felicidade deixou de ser permitida. Alegrias fugazes ocasionalmente vinham, mas a felicidade plena, essa era expressamente proibida. O governo foi destroçado. O exército, enfraquecido. A República foi diminuída até fisicamente. A infiltração da ditadura conseguiu até mesmo fazer com que a República perdesse General Severiano, sua capital.
Os inimigos sorriam e brindavam. A pesada ditadura desmantelara a República. O exército era fraquíssimo. As fronteiras tinham sido reduzidas e a capital perdida. Tudo indicava que seria mesmo o fim do botafoguismo. Mas eles não contavam que do povo glorioso nasceria o maior e mais importante foco de resistência.
O povo glorioso não se dobrou. Não aceitou a ditadura e resistiu bravamente. Quando toda a situação parecia desfavorável, quando tudo apontava para o fim, os bravos cidadãos gloriosos, cheios de orgulho pela sua história e tradições sustentavam nas costas, nos corações e nas gargantas seu país e seus ideais.
À medida que os anos iam se passando, a ditadura ia se recrudescendo, assim como a resistência dos cidadãos gloriosos. E por pior que fosse, a primeira nunca conseguiu dobrar a segunda. O povo glorioso sempre provou seu valor, durante todo o período de trevas.
Mesmo num país destruído, o povo nunca deixou de acreditar e defender a Revolução
Período esse que começou a acabar apenas no final dos 80. E o início da mudança teve um símbolo: o choro de uma jovem, triste pela situação dramática de seu país. Uma daquelas imagens que se eternizam na guerra, pelo seu valor simbólico. Então uma nova leva de soldados chegou ao exército. E eles, identificados com a luta e com o sofrimento do povo que representavam, decidiram pôr fim à ditadura. Com determinação de ferro, o valente exército foi avançando, derrotando os inimigos, sem perder um combate sequer. Até chegarem à batalha final, que não poderia ser de outra forma, foi contra os flamengos. Quem, além deles, poderia ser o último bastião de defesa da ditadura?
Diziam naquela época que o exército flamengo era poderosíssimo, praticamente imbatível. Podia até ser, mas a verdade é que nem o exército mais poderoso jamais reunido poderia derrotar aqueles soldados gloriosos. Porque eles lutavam não apenas com armas, mas com o coração e com a convicção que tinham que acabar a ditadura e devolver à República a liberdade e felicidade.
E não deu outra. Em 21 de junho, após 4 dias de batalha, o Capitão Maurício movimenta suas tropas e dá o golpe fatal na defesa flamenga. Estes fogem, levando todos os artífices da ditadura em seu comboio. O povo glorioso solta o grito de LIBERDADE, engasgado por 21 anos. A felicidade volta a ser permitida.
A festa na República foi gigantesca. Milhões de gloriosos vão às ruas em êxtase. Nunca se viu tamanha festa. Os soldados revolucionários são imediatamente, e com toda a justiça, alçados ao posto de Grandes Heróis da República. Todos, absolutamente todos, do exército e do povo se emocionam como nunca. A ditadura acabava ali, naquela noite. O sonho dos gloriosos se tornava realidade. Uma República livre novamente. Um povo novamente feliz.
Por mais rosas que a ditadura tenha matado, ela não conseguiu impedir a chegada da primavera. O longo inverno acabara. E o povo festejava. À revolução se seguiram outras conquistas, inclusive a retomada da capital, General Severiano.
Este correspondente, apenas uma criança de 8 anos à época da Revolução, conheceu ali, pela primeira vez, a liberdade e felicidade de viver num país livre e soberano, sem a sombra pesada da ditadura. Hoje, na véspera de data tão importante, só posso dizer que é motivo de absoluto orgulho ser compatriota de tão valorosos gloriosos, que não se renderam ou se dobraram em momento algum à ditadura e mantiveram firme ´diante de tantas dificuldades as cores, a bandeira e os ideais do botafoguismo.
Obrigado gloriosos! Obrigado heróis de 89! 21 de Junho sempre!
Acima: imagens da comemoração do povo e dos soldados: a ditadura se encerrava e a República voltava a sorrir