26.11.08

A crise e a política pelo "bem maior"

A crise toma conta da República do Botafogo. Nada está imune a ela, nenhum setor da sociedade e da vida do país está livre de seus longos tentáculos.

No aspecto militar, as perspectivas não são boas, com a manutenção de um comando incompetente e de tropas ineficazes, além de uma provável deserção em massa de soldados e pouca perspectiva de reconstrução das tropas. A cidade de Engenhão foi bombardeada, o anel de ferro da Linha Maginot-Biriba caiu e não há muitas esperanças de que seja recuperado tão cedo.

No aspecto financeiro, o país segue mergulhado em dívidas, sem fontes de receita. Falido, o atual governo optou por terceirizar a economia e receitas, num liberalismo de fazer inveja a Francis Fukuyama. O problema é que “investidores amigos” não têm pátria nem coração, não defendem causas ou bandeiras, não trabalham pelo bem comum, mas pelo bem específico, não têm interesse no preto e branco, a única cor que os comove é o verde do dinheiro. Assim, a solução com tais investidores se revelou ainda pior para a República.

No aspecto político, a crise se desdobra. Primeiro, o abandono completo e absoluto do atual governo, que simplesmente deixou suas obrigações para trás. Especula-se mesmo que o presidente trama seu exílio no Reino dos Galos, o que deixou um vácuo de poder e comando no país num momento complicado do nosso país. A criação de um novo governo, de unidade, que iria começar uma transição imediata para assumir em breve parecia um pequeno alento...parecia, mas a 3 dias do pleito que confirmaria sua eleição, um racha generalizado acabou com a tal unidade, com o governo de transição e bota em risco a própria eleição.

Os motivos? Os tradicionais, infelizmente. Brigas por cargos, pastas, ministérios, indicações e privilégios políticos. Assim como os investidores “amigos”, os políticos republicanos parecem ter sido tomados pela preferência ao interesse individual em detrimento ao interesse coletivo. E agora? Acusações de traição e deslealdade de ambos os lados. O povo perdido no meio.

Dizem os dissidentes que o que motivou o racha não foi a mesquinha disputa por cargos, vagas e benefícios. Que isso foi uma decisão tomada pensando no bem maior. Sinceramente, difícil de acreditar. Inclusive, uma leitura de seu manifesto aponta claramente o contrário: lá estão coisas como “quebra de acordo para vice presidências, apenas 40% das cadeiras”, entre outras coisas. E é difícil acreditar que divergências políticas e programáticas tão graves a ponto de causar a cisão do governo de transição tenham surgido apenas na antevéspera do pleito.

Agora, os dois grupos, outrora unidos pelo “bem maior” se acusam: um chama o outro de “traidores, mentirosos, aventureiros, rompedores de acordo”. O outro chama o um de “golpistas, oportunistas, fisiologistas e usurpadores da máquina estatal”. Quem tem a razão? Categoricamente e sem medo de errar, digo que nenhum dos dois lados tem razão. Estão todos errados nessa história.

Estão errados porque o que está claro é que os grupos políticos estão, como de costume, botando seus respectivos interesses partidários à frente do “bem maior”. Até mesmo insinuações infantilóides de “meu grupo conseguiu conversar com mais investidores que o outro grupo” já foram lançadas. Ora, se o que norteia todos é o “bem maior” da República, não importa quem conversa com mais investidores e sim que conversas estão sendo feitas e isso será benéfico para todos! Quer dizer, ninguém sabe, pois considerando o naipe de investidores que tivemos até agora...

A dissidência, o racha, a cisão, a briga, tudo isso é sintoma da mesma coisa: na verdade não há quem busque de fato o “bem maior”. Porque a busca pelo interesse coletivo, a busca pelo bem maior não desagrega, ao contrário, ela é aglutinadora. Ela funciona em torno de idéias, e não de nomes e cargos. Ela funciona com base numa determinação legítima e não numa busca por porcentagens de cadeiras num conselho. A forma como a aliança agora rompida foi formada nunca foi essa. Ao contrário, sempre foi obscura, sempre foi esquisita, sempre foi cheia de “no momento apropriado, apresentaremos os projetos e propostas”. Ao contrário da legítima busca pelo “bem maior”, que é feita com o mínio de vaidades, às claras e com participação ou ciência do maior número possível de pessoas, a aliança agora rompida sempre foi feita às escuras e com o mínimo necessário de envolvidos.

O que vemos na política republicana é o festival do “eu primeiro”. Agora partidos brigando abertamente diante de um povo embasbacado e estarrecido, que não crê no que vê. Vemos na política republicana a vitória do poder pelo poder, visando mais poder, para assim conquistar...poder! George Orwell pode sorrir em seu túmulo. A filosofia do Ingsoc caminha a passos largos para triunfar na República do Botafogo.

E o grupo derrotado? Após esse racha, da maneira como se deu, a coexistência está impossível. Ao grupo derrotado, seja ele qual for, não restará alternativa que não a defesa voraz do “quanto pior, melhor”. Porque o sucesso de um grupo, necessariamente, significará o fracasso do outro. E como o mais provável é nenhum grupo consiga se sobressair sobre o outro, a tendência é essa cisão e a briga política enfraquecer ainda mais nossa querida República do Botafogo.

É muito difícil conseguir a unidade política. Muitas vezes ela sequer é desejável. Talvez tudo estaria melhor se os grupos fossem estabelecidos como tal desde o princípio, ao invés de tentar forjar uma falsa unidade baseada em loteamento de cargos e porcentagem de cadeiras no conselho. Aliança essa que, às vésperas do pleito se rompe da pior forma possível.

Qual dos dois grupos sairá vencedor? Não sei e, honestamente, não me importo mais. O que sei, e isso me importa muito, é que a nossa República do Botafogo sai perdendo nisso tudo.

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Serão esses os "investidores amigos" que se aproximam da República do Botafogo, trazidos pelos grupos antes unidos, agora antagonistas?

8 comentários:

Anônimo disse...

"Engraçado", como disse o Renha, os kras não conseguem escolher 8 diretores, como querem administrar alguma coisa ???

Gil disse...

Danilo,
Mais uma vez concordo em tudo com a sua mensagem e pensamento.
"O que sei, e isso me importa muito, é que a nossa República do Botafogo sai perdendo nisso tudo"

Será que só nós, torcedores, vemos isso?

Infelizmente o poeta Augusto Frederico Schmidt tinha e tem toda a razão ao dizer para o jurista San Thiago Dantas há muitos anos: "O BOTAFOGO TEM A VOCAÇÃO DO ERRO".

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Anônimo disse...

A solução é acabar com o futebol profissional. Investir maciçamente nas divisões de base e num time de vôlei. Chamar o Bernardinho para comandar e finalmente comemorarmos títulos.

Ruy Moura disse...

E após tudo isto poderá alguém sair vencedor?... E vencedor de quê?...

Brilhantíssimo texto!

Saudações Gloriosas!

Ruy Moura disse...

Ah... E sobre Manoel Renha, que em tempos apoiei, que poderá ele dizer senão que tudo isto resulta de ele ter fugido à sua candidatura, apesar do apoio unânime de todos os botafoguenses?...

Saudações Gloriosas!

snoopy em p/b disse...

danilo,
mais uma vez, brilhante texto.
"Talvez tudo estaria melhor se os grupos fossem estabelecidos como tal desde o princípio, ao invés de tentar forjar uma falsa unidade baseada em loteamento de cargos e porcentagem de cadeiras no conselho"

essa tentativa de forjar uma unidade, como você bem citou no trecho que destaquei, revela, a meu ver, tudo o que está acontecendo.

lamentável!

parabéns pelo texto!
grande abraço

DRP disse...

Meu amigo Rui, Bertold Brecht tem um poema (os que lutam) que diz assim:

"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

Ao recusar o chamado da batalha, ao recusar-se a tomar a frente na luta, Manoel Renha deixou de ser imprescindível.

Abraço,
Danilo

DRP disse...

Sobre as eleições, felizmente, ao que parece, deu-se de forma mais ou menos ordenada e tranquila, em que pese o baixo comparecimento às urnas.

Mas parece que agora as coisas começaram a entrar nos eixos para os preparativos da próxima gestão.

O Bebeto de Freitas contraria o ditado de que "a primeira impressão é a que fica". Porque seu péssimo último ano de mandato está sendo tão marcante para o negativo que praticamente nos cega de ver as boas coisas que fez nos anos anteriores. Eu, honestamente, estou bastante antipático a ele e seus colaboradores. E se ele for para o Atlético logo que sair do Botafogo, como especula-se então...

Por fim, volto a comemorar o fato que as eleições foram mantidas e deram-se dentro da legalidade e livres de golpes. Afinal, se a História avança através de eventos simbólicos, qual seria o símbolo que uma eleição cancelada na véspera não deixaria para o futuro do Botafogo?

É torcer para que a próxima gestão nos devolva a esperança e a alegria.

Grande abraço aos amigos,
Danilo